A 100 dias da COP30, metas climáticas atrasadas aumentam a pressão por resultados em Belém

  • 02/08/2025
(Foto: Reprodução)
COP 30 - O que cada país promete para a crise do clima? O que são NDCs? Faltam exatos 100 dias para a COP30, que começa em 10 de novembro em Belém (PA), e um dos compromissos mais aguardados da conferência ainda avança devagar: a entrega das novas metas climáticas pelos países que participarão da cúpula. Até o fim de julho, apenas 25 países haviam enviado suas novas metas oficiais à ONU, conhecidas como NDCs (as Contribuições Nacionalmente Determinadas). 📝ENTENDA: Essas metas são o principal instrumento do Acordo de Paris para enfrentar a crise climática, e a rodada atual - chamada de NDCs 3.0 - pode ser a última chance real de manter vivo o objetivo de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C. Agora, para que entrem de fato nas negociações, todos os compromissos precisam ser apresentados antes da COP30. O número representa pouco mais de 10% dos signatários do acordo. E entre os maiores emissores, o cenário é ainda pior: dos 20 países que mais poluem, só cinco apresentaram novos planos, e nem todos têm perspectiva real de serem colocados em prática (entenda mais assistindo ao VÍDEO acima). "Sabemos que o tempo é curto, restam apenas 100 dias, mas o esforço é total. O governo inteiro está mobilizado, pois esses temas envolvem diversos ministérios", declarou o embaixador André Correa do Lago, presidente da COP30, em um encontro com jornalistas na sexta-feira (1º). "O Itamaraty, com o grupo negociador, está à frente desse processo e teremos ainda várias reuniões importantes, incluindo a Pre-COP em Brasília, em outubro, que será uma oportunidade estratégica para buscar soluções", acrescentou. Enquanto esses compromissos seguem em ritmo lento, Belém se prepara para receber mais de 50 mil pessoas no coração da Amazônia, com promessas de transformar a cidade em uma vitrine de soluções sustentáveis. Mas, nos bastidores, a falta dessas metas atualizadas e outros compromissos firmes têm gerado preocupação entre especialistas. Propaganda da COP30 no saguão de embarque do Aeroporto Internacional de Belém - Júlio César Ribeiro/Val-de-Cans. Fernando Frazão/Agência Brasil A poucos meses da COP30, os temas centrais da conferência (como financiamento climático, transição energética e justiça para os países que mais sofrem com os impactos do aquecimento global) também seguem sem consenso. A avaliação é compartilhada por negociadores, ambientalistas e organizações da sociedade civil ouvidos pelo g1. De um lado, eles apontam avanços concretos na chamada economia de baixo carbono, como a expansão da energia renovável, o aumento de investimentos em bioeconomia e o surgimento de iniciativas locais em áreas vulneráveis ao clima. De outro, destacam que a política internacional ainda anda devagar e os compromissos firmados não acompanham a gravidade da crise - nem a velocidade com que os eventos extremos têm afetado populações, economias e ecossistemas em todo o mundo. “A gente não está mal em relação às negociações. O que está difícil é o mundo. O que está atrasada é a política”, resume Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa. Abaixo, em três pontos, entenda mais esses impasses até Belém: O quão atrasadas estão as metas? Quais os entraves para um financiamento climático justo? Por fim, por que a transição energética ainda não tem metas claras? ⏰O quão atrasadas estão as metas? A entrega das NDCs deveria ter sido concluída até 10 de fevereiro deste ano, segundo o cronograma oficial da ONU. Mas mais de 93% dos países perderam o prazo, o que forçou o secretariado da Convenção do Clima (UNFCCC) a estender o limite até setembro. O atraso coletivo é o maior desde que o Acordo de Paris entrou em vigor. Atualmente, os países que ainda não apresentaram suas novas metas climáticas à ONU respondem por aproximadamente 83% das emissões globais de gases de efeito estufa e por quase 80% da economia mundial. Isso significa que, mesmo com as NDCs submetidas por 25 países até agora, grande parte da ambição global prevista para este ciclo ainda depende de compromissos que seguem pendentes. LEIA TAMBÉM: Como a recente descoberta do primeiro clima árido no Brasil pode impactar o restante do país Hotéis em Belém cobram diárias até R$ 5.700 para COP 30, e governo federal apura se aumentos são abusivos Brasil precisa reduzir em 92% emissões de gases de efeito estufa até 2035, diz Observatório do Clima Mas para Tatiana Oliveira, assessora de políticas públicas do WWF-Brasil, a realização da COP30 no Brasil representa uma oportunidade estratégica para ampliar a pressão internacional por metas mais ambiciosas. Ela destaca que a mobilização da sociedade civil, incluindo povos indígenas, comunidades tradicionais, juventudes e movimentos sociais, pode desempenhar um papel decisivo para que os países que ainda não entregaram suas NDCs avancem com compromissos mais concretos e alinhados à meta de 1,5 °C. "O processo multilateral é, por definição, lento — e precisa ser inclusivo para ser legítimo. Avanços duradouros exigem construção política, não imposição", diz Oliveira. Entre os países que ainda não entregaram suas NDCs estão China, Índia, União Europeia, Rússia, Austrália e México. Juntos, China, EUA e Índia (que concentram parte significativa das emissões globais) representam, somados, mais de 42% do total de gases de efeito estufa lançados na atmosfera. O Brasil entregou sua nova NDC em novembro de 2024 e foi um dos primeiros países a fazer isso. A meta estabelece uma redução de 59% a 67% das emissões líquidas até 2035, em relação aos níveis de 2005. A proposta foi registrada formalmente na ONU e já está vinculada a políticas nacionais como o Plano Clima e o plano de ação da bioeconomia. Mas o plano gerou reações críticas de especialistas e organizações ambientais, que consideram a ambição insuficiente diante da emergência climática. Uma das principais divergências está no uso da chamada “meta em banda”, que prevê emissões entre 850 milhões e 1,05 bilhão de toneladas de CO₂ equivalente. Para analistas, esse formato amplia a margem de incerteza e enfraquece o sinal político do país-sede da COP30. Agora, ainda de acordo com especialistas ouvidos pelo g1, os atrasos de outros países se devem tanto a fatores técnicos (como a necessidade de atualizar dados, articular diferentes áreas do governo e alinhar metas setoriais) quanto a razões políticas, como mudanças de governo, conflitos armados e incertezas econômicas no cenário global. No caso da União Europeia, o processo envolve decisões em bloco, por exemplo. Uma proposta de meta de redução de 90% até 2040 está em debate, mas ainda não há consenso entre os Estados-membros. Parte apoia, parte resiste, e outra parte segue indecisa, o que mantém o envio da nova NDC em aberto. E sem as metas atualizadas, a chamada síntese técnica da ONU prevista para ser divulgada antes da COP30 também fica comprometida. O documento reúne os compromissos de todos os países e ajuda a orientar as negociações, funcionando como base para avaliar a ambição coletiva diante da meta climática global. A presidência brasileira da COP30 afirma que os países estão usando o tempo extra para formular compromissos mais sólidos. Mas há um entendimento entre organizações da sociedade civil de que a janela política para garantir um pacote climático consistente está se estreitando e que a ausência prolongada de metas pode dificultar a construção de acordos mais amplos durante a conferência. Alguns dos países ainda pendentes, como China e Índia, sinalizaram que devem apresentar suas NDCs em setembro, perto da Assembleia Geral da ONU. A União Europeia também prevê avanços nas próximas semanas. No entanto, até que os documentos sejam registrados, ainda há incerteza sobre o nível de ambição que será efetivamente alcançado. Na avaliação de Carolle Alarcon, gerente executiva da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, o Brasil tem uma oportunidade única de transformar suas particularidades, como o fato de a maior parte das emissões vir do uso da terra, em protagonismo climático. Mas para ela, a COP30 precisa ser encarada como uma vitrine de soluções concretas e integradas para agricultura, florestas e clima, com base em propostas robustas alinhadas ao Plano Clima e construídas em diálogo com a sociedade civil, a academia e o setor privado. "O Brasil já estabeleceu, por meio do Plano Nacional de Vegetação Nativa (PLANAVEG), a meta de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030, sendo 1 milhão em áreas subutilizadas, como pastagens degradadas", diz a especialista. Agora para tirar esse plano do papel, quatro pontos são fundamentais: acesso a financiamento adequado para sistemas integrados de produção, governança articulada com metas e monitoramento, assistência técnica para difusão de tecnologias já disponíveis e uma sinalização política clara, com incentivos que fortaleçam o mercado de práticas regenerativas. A entrega da nova NDC do Brasil durante a COP29, em Baku, no Azerbaijão. UNFCCC 💰 Quais os entraves para um financiamento climático justo? Além da lentidão na entrega das NDCs, o maior impasse que Belém precisa enfrentar é financeiro. E ele está longe de ser algo novo. Em 2009, países ricos prometeram mobilizar US$ 100 bilhões por ano até 2020 para apoiar ações climáticas em países em desenvolvimento. A meta nunca foi cumprida integralmente e em 2023 o valor chegou a US$ 83,3 bilhões. Em resposta, a última cúpula do clima da Onu, a COP29, aprovou um novo alvo: US$ 300 bilhões anuais até 2035. A medida foi apresentada como um avanço, mas recebeu duras críticas de redes da sociedade civil, como o Climate Action Network (CAN), que considerou a proposta "um insulto climático". O motivo: o valor segue distante do necessário para lidar com os impactos crescentes da crise ambiental, especialmente em países vulneráveis, que enfrentam enchentes, secas, insegurança alimentar e deslocamentos forçados. Para tentar construir um novo pacto mais ambicioso, Brasil e Azerbaijão, que lideram conjuntamente o atual ciclo de negociações, lançaram o chamado "roteiro Baku–Belém". A proposta busca elevar o patamar do financiamento para US$ 1,3 trilhão anuais, combinando fontes públicas, privadas e mecanismos de garantias. A ideia é tornar os recursos mais acessíveis e previsíveis, com ênfase na adaptação e na reparação de perdas e danos. DICIONÁRIO DA COP: entenda os principais termos que movem a Conferência do Clima da ONU O plano prevê o uso de garantias soberanas, títulos verdes, regulação mais flexível e criação de plataformas nacionais que canalizem os recursos diretamente para projetos locais. Também sugere novas formas de arrecadação, como taxação de carbono e redirecionamento de subsídios de indústrias poluentes. “O financiamento passou a ser tema-chave da COP30, que originalmente nem tinha esse foco. E ele está sendo usado como moeda de troca para travar avanços em outros temas, como a eliminação dos fósseis”, afirma Anna Cárcamo, especialista em Política Climática do Greenpeace Brasil. ONGs e governos do Sul Global querem que 50% dos recursos sejam destinados à adaptação e perdas e danos — hoje, essas áreas recebem menos de 10%. Eles também cobram que parte significativa vá direto para povos indígenas, comunidades tradicionais e projetos com base na natureza, como reflorestamento, agricultura de baixo carbono e uso sustentável da biodiversidade. A expectativa é que a COP30, em Belém, vire justamente essa chave. No entanto, para que isso aconteça, segundo especialistas, não basta apenas anunciar promessas: é necessário apresentar de forma clara como esses recursos serão utilizados, com regras de rastreamento e mecanismos de participação efetiva. Para Cárcamo, uma plataforma digital prevista para ser ampliada durante a conferência pode contribuir nesse processo — desde que haja controle independente e que ela não seja cooptada por estratégias de greenwashing empresarial. E se os países não chegarem a compromissos, além de desenvolverem e apresentarem planos nacionais robustos, temos um risco iminente de ultrapassar o limite de temperatura do Acordo de Paris. Obras no Parque da Cidade, um dos principais espaços da COP30 em Belém. Rafa Neddermeyer/COP30 Brasil Amazônia/PR 🌍Por que a transição energética ainda não tem metas claras? Outro desafio central da COP30 é dar escala à transição energética global. O avanço das fontes renováveis até que tem sido significativo: segundo a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), mais de 90% das novas usinas construídas em 2024 no mundo foram mais baratas que as fósseis. E o Brasil, que já tem uma das matrizes mais limpas do planeta, ficou entre os cinco países que mais adicionaram capacidade solar e eólica no último ano. Mesmo assim, ainda segundo a análise de especialistas, os compromissos formais ainda não refletem essa mudança. A presidência brasileira da COP30 defende a meta de triplicar as fontes renováveis até 2030 e dobrar a eficiência energética, mas essa proposta ainda não foi oficializada como parte do pacote de decisões. Também não há definição clara sobre cronogramos para eliminação de subsídios aos combustíveis fósseis, uma das principais travas apontadas por especialistas para o avanço da transição. "A atuação das empresas de combustíveis fósseis (petróleo, gás e carvão) continua sendo um dos principais entraves para o avanço da agenda climática", critica Natalie Unterstell, do Instituto Talanoa. Na avaliação da especialista, as empresas de combustíveis fósseis ainda exercem forte influência sobre o rumo das políticas climáticas. Tentam se posicionar como protagonistas da transição energética (embora os dados de investimento apontem o contrário) e, ao mesmo tempo, reforçam a ideia de que mudanças estruturais seriam arriscadas demais, defendendo a “segurança energética” como justificativa para manter o modelo atual. Esse é um lobby forte, com aliados influentes — em especial o atual presidente dos Estados Unidos —, e não pode ser subestimado. Trata-se de uma força que não tem interesse em ver a COP30 em Belém alcançar sucesso; quanto menos avanços, melhor para eles. Ativistas seguraram faixa de 30 metros de comprimento dizendo “Brasil, lidere a transição energética justa na COP30”. Kathleen Lamayo/350.org Diante desse cenário, analistas e organizações avaliam que é preciso cautela ao prever os resultados da COP30. Isso porque embora existam obstáculos significativos, também há espaço para avanços concretos — não apenas em Belém, mas com impactos duradouros para a próxima década da governança climática internacional. Além disso, cresce a expectativa de que a COP30 ajude a destravar investimentos para a adaptação climática, área que historicamente recebeu menos atenção do que a mitigação. Iniciativas como a definição de indicadores globais, discutidas ao longo do ano e previstas para serem validadas na conferência, podem representar um avanço importante. A ideia é que esses parâmetros sirvam para orientar políticas públicas, atrair recursos e oferecer mais segurança a investidores. No Brasil, algumas ações já caminham nessa direção. Juliana Lopes, colíder da Força-Tarefa de Bioeconomia da Coalizão Brasil Clima, Florestas e Agricultura, destaca que o país tomou medidas recentes para se tornar mais atrativo ao capital internacional, alinhando os investimentos a uma economia verde e justa. Ela cita como exemplo o lançamento da chamada taxonomia sustentável brasileira, elaborada com participação da sociedade civil e do setor empresarial, que permitirá direcionar recursos para atividades com impacto ambiental e social positivo. “Com esses parâmetros, pouco a pouco será possível direcionar os fluxos financeiros para atividades hoje ainda mais alocadas em atividades econômicas que degradam, para atividades econômicas que têm impactos positivos para o ambiente e para as pessoas”, afirma. LEIA TAMBÉM: Aquecimento dos oceanos causará impacto por milênios, diz órgão meteorológico da ONU Brasil perdeu 30 milhões de hectares por causa de queimadas em 2024; Amazônia é a mais afetada Lewandowski propõe criar crime de 'ecocídio' para punir crimes ambientais com até 40 anos de prisão Junho de 2025 foi o 3º mais quente da história

FONTE: https://g1.globo.com/meio-ambiente/cop-30/noticia/2025/08/02/a-100-dias-da-cop30-metas-climaticas-atrasadas-aumentam-a-pressao-por-resultados-em-belem.ghtml


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